(Ez 19:10-14)
Esse capítulo encerra uma longa série de profecias e consiste num comovente lamento pela queda da família real de Israel e pela sua total desolação como nação, mostrando que Israel não tem nenhuma esperança de escapar ao juízo divino. A parábola em si é uma extensão da Parábola da vinha do Senhor e da Parábola do pau da videira, de que já tratamos (Is 5:1-7; Ez 15:1-8). Ela também revela a amplitude do vocabulário de Ezequiel. De que riqueza de expressão era dotado! Com grande habilidade, ele passa de leões para videiras.
O sentido exato de “videira na tua vinha” é de difícil conclusão, uma vez que no original se lê “a videira é o sangue”. Certamente não é a mesma “videira [...] de pouca altura” que já vimos numa parábola de Ezequiel (17:6). Temos aqui uma videira forte, notável e excelente. A expressão já foi reescrita deste modo: “Tua mãe é como uma videira a viver no sangue”, ou seja, na vida de seus filhos, ou “quando foste plantada no teu sangue —na tua primeira infância— recém-saída do útero, sem ainda te-res sido lavada” (Ez 16:6). Calvino traduz a expressão por “no sangue das tuas uvas”, que significa “em sua plena força”, assim como o vinho tinto é a força da uva (Gn 49:11).
De uma coisa sabemos: a videira, a principal das árvores frutíferas, é aqui empregada pelo profeta como símbolo de toda a casa real de Judá. Chama-se atenção para a sua posição privilegiada —”plantada junto às águas”—, tendo assim todas as vantagens do crescimento e da frutificação responsáveis pelo poder e pela glória dos seus primeiros monarcas. A menção da antiga respeitabilidade real contrapõe-se tristemente à atual degradação da casa real de Davi (19:13). O lamento do profeta é “De uma vara dos seus ramos saiu fogo que consumiu o seu fruto”, referência à estultícia de Zedequias e às suas trágicas conseqüências (Ez 17). A nação é apresentada como tinha sido até então: uma videira de “espessos ramos”, símbolo do número e dos recursos do povo e de como ela será quando o reino de Cristo encher toda a terra (SI 110:2; Is 11:1). Os “espessos ramos”, contudo, foram arrancados, não secados aos poucos —metáfora da repentina sublevação do povo no juízo da nação, o qual deveria ter produzido arrependimento.
Por fortes varas entendemos aqueles galhos mais robustos que representam os cetros dos reis de Israel, sendo a autoridade desses governantes indispensável ao bem-estar do povo. Como afirma Lang: “Parte do castigo da rebelião é que as pessoas ficam sem guia e sem proteção”, “uma vara”, no singular, sem dúvida refere-se ao último rei, Zedequias, que ocasionou a ruína total para si e para o povo. A quebra e o ressecamento dos galhos aponta para a terrível desgraça da nação quando despojada dos seus governantes. Nesses dias todas as nações precisam de “fortes varas”, reis justos e capazes de governar. De uma vara dos seus ramos saiu fogo significa que o povo acendeu a ira de Deus com seus pecados e sua estultícia. Apresenta-se a “ira do Senhor” contra Judá como a causa de Zedequias ter recebido permissão de se rebelar contra a Babilônia (2Rs 24:20; Jz 9:15). Como comenta Campbell Morgan: “Arrancados furiosamente, cessaram seus fortes governantes, e de seus galhos saiu um fogo destruidor. Em outras palavras, a destruição definitiva de Judá provinha de seus governantes, e a referência é indubitavelmente a Zedequias”.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário